KARMA “MERMÃO”
Treinando karma Yoga de verdade!
Muitas escolas de Yoga hoje em dia, usam a desculpa do Karma Yoga para conseguir trabalho gratuito dos seus alunos. Inúmeras vezes eu vi pessoas reclamando que tiveram que limpar privada, pintar paredes (quase sempre com tinta comprada por ele mesmo), prepararam guirlandas, cozinharam, trabalharam voluntariamente nas mais diversas tarefas. Mas na hora da escola fazer Karma Yoga com eles, não fez. Quando esses alunos não tinham mais dinheiro para a mensalidade, simplesmente foram descartados.
Não estou dizendo para as escolas não estimularem o voluntariado, não é isso, mas se essa escola cobra mensalidade então tem algo errado no processo. Ou eles se posicionam e abrem o jogo com relação ao que realmente querem das pessoas, ou param de explorá-las. Não dá para cobrar mensalidade do aluno e ainda por cima o fazer trabalhar para você irregularmente. Para o serviço voluntário existe uma norma que regulamenta essa função que é a lei Nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. E a maior parte dos lugares que faz Seva (serviço) ou Karma Yoga, está totalmente irregular sob o ponto de vista legal, e podem ser enquadrados facilmente em diversos processos judiciais trabalhistas. Para ficar mais afinado com a lei sugiro o site www.voluntarios.com. Veja também o Termo de Adesão ao Serviço Voluntário - Clique AQUI para ver o modelo (fonte - www.iyv.org/infobase/legal/BRA_law.htm).
Se onde você faz práticas de Karma Yoga, em momento algum é proposto uma visita a um orfanato, asilo, hospital ou mesmo um presídio, e se o local sempre “arranja” tarefas onde quem é beneficiado ou é a escola ou o professor, desconfie!
Certa vez recomendei a criação de uma urna, onde cada aluno colocasse alguma sugestão de Seva. Valia todo o tipo de tarefa, até mesmo ajudar a pintar a casa de um amigo, por exemplo. Depois era só sortear. Não seria uma escolha sua, mas do grupo. Claro que a maior parte dos que escutaram isso (obviamente os donos da escola) torceram o nariz. Todavia os alunos adoraram a ideia.
Mas o que é Karma Yoga?
Quase sempre isso é descrito como ação desinteressada, mas a própria ação condiciona um interesse, mesmo que seja o simples fato de você estar se exercitando. O que abrimos mão não é disso, mas sim dos frutos da ação. Ou seja, agimos. Mas se essa ação der certo, renunciamos, se der errado também. Isso quer dizer que não vamos nos limitar aos resultados, mas no foco da ação.
Fomos instruídos desde a infância à cultura da recompensa, “o que eu ganho com isso?” Educaram-nos para fazer tudo direitinho, e se tivermos um bom comportamento durante o ano ganhamos presentes no natal, se eu dou um jabá para a gravadora minha música toca no rádio, se eu trago bombons para o pessoal do escritório as pessoas gostam de mim, se eu sou um bom marido ganho “recompensas”, se eu for uma boa pessoa vou para o céu... Até mesmo a prática de Yoga não escapa desse comportamento, pois muitos praticam para ganhar forma física, ou até mesmo o estado de libertação (moksha). Isso não é errado nem certo é apenas uma maneira de pensar. Meu objetivo é propor novas formas de agir e de ver o mundo.
Quase sempre condicionados pela forma que fomos criados, acabamos ficando com as mãos na ação e a mente no prêmio. Entretanto existem outras maneiras de ação, que produzem ganhos, mudam o mundo a nossa volta, só que os frutos dessa ação não nos afetam. Não nos tornamos escravos disso.
A palavra Karma significa ação e vem do sânscrito “kr” fazer, e diz respeito a tudo o que fazemos: todas as nossas ações são karma. E cada uma das nossas ações produzem experiências, que por sua vez nos trazem conhecimento.
Na maior parte do tempo buscamos boas experiências, mas essas são apenas uma parte da realidade, e a vida proporciona múltiplas sensações tanto boas como ruins. Ao buscar somente o prazer, não percebemos que sofremos quando esse prazer não é alcançado. Sofremos também para manter o prazer, sem nos darmos conta que isso é impossível. Na verdade a própria felicidade não existiria sem o conhecimento do sofrimento.
Aliás, quando estamos bem temos o conhecimento de que estamos experimentando o oposto da dor, então valorizamos esse bem-estar. Temos que ter em mente que tanto o prazer como a dor são ambas efêmeras, são finitas e cíclicas. Portanto nada disso deveria nos afligir, porque nosso propósito no mundo é outro. Nosso destino é o conhecimento.
Svámi Vivekánanda diz: “O conhecimento está na mente como o fogo está na pedra. É a fricção que o faz brotar.”
Você já deve ter ouvido inúmeras vezes que tudo o que precisamos está dentro de nós mesmos, e para estimular esse fogo em nosso interior precisamos de atrito, ou seja, nos expor ao mundo sem reservas.
Já escutamos várias vezes ainda, que é irrealizável compreender o infinito a partir de uma mente finita. Que para dilatar e estender a consciência é preciso ver tudo com outros olhos, perceber com outros sentidos, ou melhor, não usar os sentidos, mas sim Ser. Que abrir a mente para o novo é o primeiro passo para expandir a consciência e degustar novas possibilidades.
A proposta do Karma Yoga é exercitar uma nova maneira de agir, desinteressada. Praticar uma nova maneira de explorar o conhecimento que está dormente, estimulando-o. Uma nova maneira de se descobrir. Aproveitamos os golpes exteriores, pois eles extraem sentimentos de nossas mentes e esses sentimentos nos moldam.
Faça por fazer, pelo fazer, para fazer. Mantenha seu foco na ação. E você será como a pedra de onde surge o fogo, instigando potencialidades e virtudes que ainda não tinha noção de que já haviam em seu íntimo.
Não pense, haja!
Faça agora:
Pegue um pequeno papel.
Idealize uma ação que você possa desempenhar, ou que precise que alguém faça para você, ou mesmo que tenha conhecimento de algo que alguém precisa e escreva.
Dobre o papel e coloque-o no recipiente.
Agora espere outras pessoas fazerem isso também, assim que tiver ao menos umas 30 opções, misture tudo muito bem, sorteie um para você e faça!
“Aproveite para praticar a verdade, o auto-estudo, a superação, e depois disso, você poderá até ganhar o contentamento”. Rui Gianola
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