Você sabe quem trouxe o Yoga para o Brasil?

03/05/2010 13:02

  Sevánanda Swámi

 

A história do Yoga no Brasil é muito controversa, mas existem fatos que não podem ser distorcidos, pois foram documentados. Outros, entretanto são parte do folclore urbano contado por aqueles que “estavam lá” e contam as mais loucas versões dos “fatos”.

 

“Sabemos” que o Yoga veio ao Brasil por volta da primeira década do século passado, pelas mãos de místicos de ordens iniciáticas, e que muitos ensinamentos por eles transmitidos eram baseados no Yoga ensinado por Vivekánanda e Yogánanda.

 

Quando eu pesquisava sobre os primeiros professores de yoga no país cheguei a cogitar o nome de Charles Jinarajadasa (1875-1953), pois ele esteve por três vezes no Brasil e proferiu diversas palestras que foram posteriormente publicadas sob o título de "Conferências Teosóficas".

 

Nessas conferencias ele apenas dava pinceladas e exemplos sobre Yoga no contexto teosófico, não era um Yoga prático, não deu exercícios nem físicos, nem mentais sobre o tema e até onde se sabe não deixou discípulos.

 

Jinarajadasa foi pupilo do Bispo Charles Webster Leadbeater da Sociedade Teosófica e foi treinado junto com Jiddu Krisnamurti em londres pela Sra Annie Besant. Teósofo. Estudou filosofia e letras em Cambridge. Atuou na docência e teve ativa participação no movimento teosófico, presidindo, em 1944, a Sociedade Teosófica, da qual se constituiu em uma de suas mais altas personalidades.

 

Apesar de saber diversos elementos de Yoga, até onde eu sei, ele não era considerado instrutor. Seu trabalho principal foi como Mestre da Escola Teosófica acompanhando os ensinamentos na linha do Khrisnamurti, Blavatski, Besant, Leadbeater entre outros. E também a Maçonaria.

 

Existem indícios que funcionava na cidade de Santos uma loja teosófica, onde na década de 1920 existiam práticas de Yoga “clássico”, mas pouco se sabe do nome do professor ou mesmo quanto tempo durou.

 

Por enquanto o único personagem que foi fartamente documentado e que trouxe o Yoga para o Brasil como trabalho contínuo na década de 50 por um francês chamado Léo Alvarez Costet de Mascheville, conhecido como Sevánanda Swami. Ele viajou pelo país fazendo conferências e fundando grupos de praticantes em várias cidades.

 

Após alguns anos na Europa onde além de prestar serviço militar servindo no Estado maior do Exército Francês, participou de uma serie de ordens secretas, inclusive a rosa cruz na Europa, Léo viaja para a Argentina em 1923 e atravessa os pampas a pé com um Yogi alemão durante seis meses e volta ao Brasil, em 1924, com a esposa Lotúsia, que conhecera na frente de batalha como enfermeira de campanha, da qual ganhou uma filhinha.

 

No final da década de 20 a família muda-se para Curitiba onde Leo, conhecido como Sri Sevánanda Swami, funda uma série de ordens místicas coordenadas pelo seu pai, que acaba por morrer em 1943, nesta cidade.

 

Diploma da Ordem Cabalística da Rosa Cruz outorgado à

Léo Alvarez Costet de Mascheville, (SEVÁNANDA)

 

 

Triste pela morte de seu pai Sevánanda vai morar no Uruguai fundando em Montevidéu o GIDEE (Grupo Independente de Estudos Esotéricos) verdadeira mistura esotérica e espiritualista transcendental: Sufismo, Yoga e Yogaterapia, Kabbala, AyurVeda, Cristianismo Esotérico, Ciências Herméticas, Astrologia e Astrosofia, Filosofia Transcendental, Alimentação, todas as matérias do Martinismo e da Rosa-Cruz. Curas Místicas sob a orientação do MESTRE PHILIPPE, Budismo e Gnose.

 

Philippe de Lyon, Sevánanda, Sádhana

e a A. M. O. (Associação Mística Ocidental em 1951).

 

 

Mas o seu sonho o GIDEE se desmorona, passou fome ao lado de sua companheira Louise, com a qual continuou trabalhando após o falecimento de Lotúsia, vendendo apólices de seguros de porta em porta, nas ruas de Montevidéu...

 

Pouco tempo depois Sri Sevánanda passa a trabalhar junto à sua nova companheira, SÁDHANA, liquida o passado, e vendem as posses de Sádhana para adquirir um trailer e um jipe. Veio um senhor de idade para lhe entregar um pequeno baú que continha o acervo cerimonial, intelectual e místico de uma antiga e venerável sociedade dos Himalaias, o SUDDHA DHARMA MANDALAM, pondo-o em contato com seu "Iniciador Externo", o Guru Subrahmanyananda, de quem recebe a Iniciação e Ordenação como membro da Ordem dos Swamis de Sri Sankaracharya. Foi incumbido, pelo mesmo Guru, a assumir a função de "Iniciador Externo" e de ser seu sucessor no Suddha Dharma.

 

Sevánanda e sua esposa Sádhana

 

Em junho de 1952 partem, Sevánanda e Sádhana, dirigindo o jipe, rumo norte a atravessar o Uruguai e Brasil, parando em todas as cidades visitadas e dando palestras públicas a divulgar sob o lema "O sacrifício de Jesus e de Gandhi nos unem a todos".

 

10 anos depois retorna ao Brasil para fundar na noite de 20 de novembro de 1953, em Resende, Estado do Rio, o Monastério Essênio e Ashram de Sarva Yoga "AMO-PAX".

  O Que é Alba Lucis  (1953)

Os primeiros meses foram difíceis e de intenso trabalho, quase sem apoio algum, ao instalar uma necessária infra-estrutura material de sobrevivência. Mas novos Discípulos se apresentam como candidatos a residentes, e assim a comunidade cresce. Mahatma Gandhi, nomeia Sri Sevánanda seu representante para o Brasil, bem como Paramahamsa Yogánanda.

 

O Ashram se torna conhecido no Brasil inteiro, e visitantes começam a chegar também do Exterior. Jocosamente o Mestre se refere ao Ashram como a um "restaurante onde cada um dos residentes recebe o alimento que lhe agrada..., mas pena que não sabem comer!". Durante 7 anos, em Resende, treinou vários discípulos nas diversas linhas de esoterismo, inclusive yoga.

 

Dentre aqueles que aprenderam com Sevánanda podemos citar as senhoras Zenaide de Castro, de Lajes e Dalva Arruda de Florianópolis, ambas de Santa Catarina, e os senhores Guilherme Wirz de São Paulo, Georg Kritikós de Belo Horizonte e o capitão Carlos Ovídio Trota (Vayuánanda) do Rio de Janeiro, Jean Pierre Bastiou (Vasudev) além de outros.

 

Todos que o conheciam diziam que ele vivia com intensidade cada dia e hora, retransmitindo com todo entusiasmo do coração aos que dele se aproximavam. Sua mais evidente expressão de ser era a espontaneidade, que definiu em um dos seus escritos: "Meu método se baseia 200% na espontaneidade".

 

Por possuir formação militar Sevánanda acaba se aproximando de vários militares da época ensinando inclusive ao celebre Caio Miranda que foi o primeiro Brasileiro a escrever um livro de Yoga, e muitos outros que lecionaram Yoga na década de 60.

 

Em 1961 os residentes se dispersam, fecha o Monastério, vende as terras e parte para Santa Catarina com um pequeno grupo onde vive no “Retiro Alba Lucis”, em Lajes-SC em um sítio de Discípulos, e se dedica a escrever.

 

Em 1969 retira-se para o "Sítio dos Peregrinos" uma pequena chácarazinha, a vinte minutos de Belo Horizonte em Betim, Minas Gerais, onde viveu seus últimos dias sob os cuidados de sua Enfermeira e fiel Discípula Sévaki lá sua saúde se alterou rapidamente faleceu em 6 de Novembro de 1970. A esse pioneiro do Yoga no Brasil dedicamos essa memória.

 

Sua lápide de cor cinza-clara está no velho cemitério de Betim. Raros os que o visitam. O mundo esquece facilmente.

 

André De Rose

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